segunda-feira, novembro 16, 2009

TEDx: instância São Paulo (parte II)

(primeira parte aqui)

Minhas expectativas



Eu setei minha expectativa lá embaixo. Esperava basicamente um desfile do “beautiful people” paulistano, essa categoria de ricos-com-peso-na-consciência que moram no morumbi, passam férias em NY, dão consultoria sobre “mídias socials”, usam sacolas de pano, não vivem sem o iPhone, tem o Prius como sonho de consumo, fazem Yoga e colaboram com uma entidade social.

Mas ainda assim, queria ouvir o que pessoas reconhecidas como destaques em áreas fora da minha zona de conforto, como biologia, engenharia, quimica, etc tinham para dizer.

E ouvir histórias de gente bem mais experiente que eu. A Dona Adozinda e o Anisio Campos eram dentre os palestrantes anunciados minhas grandes apostas, curto muito ouvir pessoas que viveram em épocas onde existiam coisas como valores, respeito, dignidade, tradições e etc…

Proposta diferente



A começar pelo email de lembrete no começo da semana com instruções e avisos de que não seriam permitidas cameras e gadgets na platéia eu comecei a me dar conta de que aquele seria um encontro no mínimo diferente dos que estou acostumado, e de que a organização era de nível superior. Não quero entrar nos méritos, vantagens e desvantages dos diferentes tipos de abordagem, mas recomendo a leitura deste artigo sobre a Audience Conference, dois trechinhos que passam a idéia do artigo:


In my opinion, casually live-tweeting conferences is overrated because to a large degree it doesn’t serve an external audience very well. When 30 people are tweeting 10 times during each of 10 talks at a conference, and then people re-tweet the tweets (on a delay, naturally), the hashtag stream is a jumbled mess of disjointed quotations that don’t tell a coherent story. I’ve written about why I think tools like Posterous might be better for summarizing thoughts from events; they serve the audience better.





The comments on Nicole Ferraro’s blog about Audience Conference might lead you to believe that being able to film and tweet from a private, closed door event was some God-given right of Those Who Possess An iPhone. Sorry, it’s not. Loren Feldman took video of the entire event from six different angles (including a small cam pointed at, you guessed it, the audience) and he will decide how and what and when you get to see anything. Why not? It’s his show, not yours. Can you stream video from a live production of Wicked?


Este último resume bem, eu particularmente gosto de filmar trechos de palestras e brincar de editar depois no meu laptop, mas simplesmente ouvir com 100% de atenção o que o cara está expondo com a tranquilidade de que tem gente muito mais capacitada que você documentando tudo também é legal. E no meu caso, esta tranquilidade veio quando vi que os responsáveis pela cobertura audiovisual do evento eram a turma da colmeia, e in colmeia we trust, os caras são foda. Entrei no clima “sit back and relax”. Decidi que nem notas no caderninho eu faria, pois os vídeos estarão online em breve mesmo.

Afinal havia um piano de cauda no palco, e o evento começou com um músico talentoso recitando Pneumotórax do Manuel Bandeira.

(continua…)

TEDx: instância São Paulo (parte I)

Estou com dois posts no draft sobre assuntos diferentes, mas resolvi escrever um novo a respeito do evento que ocorreu Sábado passado em São Paulo p/ aproveitar enquanto o assunto ainda está fresco e minha memória ainda não se desfez das conexões que quero documentar…

TEDx


Pois bem, no começo do ano, os organizadores do TED lançaram um programa de licenciamento para pequenos grupos chamado TEDx, que tem por objetivo “replicar” em comunidades locais o formato e a proposta do evento principal, que é reunir pessoas que estão fazendo coisas diferentes/inovadoras num local e usar apresentações rápidas de 5 a 15 minutos como inspiração/incentivo para a troca de idéias.

A idéia faz todo o sentido por um lado, pois já que a intenção é espalhar idéias, delegar a mais grupos as tarefas de encontrar gente interessante e de organizar as reuniões escala melhor que apenas um evento central, anual e pago. Mas por outro lado, existe o risco de “cair em mãos erradas” vamos dizer assim, e baixar o nível e o prestígio do evento-pai, ja que não há como garantir que os grupos locais não irão simplesmente continuar fazendo as mesmas conferências de posers e gurus de sempre mas desta vez com um logo do TED endossando a palhaçada.

No geral, eu particularmente acho que vale o risco, pois na minha escala de valores um evento com palestrantes posers e gurus ainda é melhor que nada. Até porque o que vale mesmo nestas reuniões são os coffee breaks, não digo a comida ou a cerveja, mas as conversas.

TEDx SP: Processo seletivo



What the fuck! Esta foi minha reação ao ver que o critério para o convite era um processo seletivo com base num formulário do tipo feito por pessoas de RH, e não qualquer outra coisa, como ordem de chegada por exemplo. Quando digo que o formulário tem cara de teste de admissão de funcionário do Mc Donalds eu não estou exagerando. As perguntas eram: ”Se alguém fosse descrever vc, quais seriam as 3 maiores conquistas da sua vida?”, “O que vc tem a oferecer ao mundo hoje” e “O que vc acha que o Brasil tem a oferecer ao mundo?”.

Ok, vamos ver onde é que isso vai dar, pensei eu. Como é o primeiro, vale o benefício da dúvida. Fui lá e preenchi a ficha de inscrição. Não lembro as minhas respostas, mas sei que fui sincero e comecei minha resposta para o “O que vc acha que o Brasil tem a oferecer ao mundo?” com ”Além de asilo para criminosos internacionais?…”

Eu realmente acho que o Brasil, o país, não tem nada para oferecer ao mundo, acho que patriotismo é coisa de imbecis e tento manter o meu pessimismo/realismo em níveis saudáveis para não me iludir e cair nas armadilhas daqueles que prometem o “outro mundo possível”. O Brasil é só um monte de chão cheio de fronteiras arbitrárias, não existe uma identidade ou característica coletiva que possa ser oferecida ao mundo como exemplo de nada bom: o “jeitinho brasileiro”? a “lei do gerson”? o “quem não cola não sai da escola”? Enfim eu fico puto quando alguém usa exemplos individuais de pessoas esforçadas que trabalharam e conseguiram sucesso apesar de serem brasileiras como uma conquista do Brasil, ou da nossa cultura.

Muito bem, não fui aceito. Ou pelo menos, até o penúltimo dia de inscrições, quando umas 3 levas de convites ja haviam chegado por email para meio mundo, o meu, que me inscrevi logo no começo não havia chegado. Concluí (e posso muito bem estar errado quanto a isso) que minha ficha havia sido rejeitada.

Nada mais natural, meu estilo de redação é um pouco insensível e eu ingenuamente assumo que o leitor possui o que os gringos chamam de “thick-skin“ e que vai focar no conteúdo e nas ideias ao invés de se ofender com a forma que são apresentadas. Já me custou algumas potenciais amizades, mas infelizmente é a maneira mais honesta que consigo me expressar via texto.

Segunda tentativa



Como disse anteriormente, na minha escala de valores um evento que reune gente p/ coffee-breaks ainda é melhor que nada, independente dos palestrantes. E eu gosto muito de ir em eventos, acho interessante ver como as pessoas diferentes pensam e agem, gosto de ouvir sobre os projetos dos outros gosto de ouvir e também de argumentar cara-a-cara com outros seres humanos. A vida off-line é saudável.

Ou seja, eu tinha que ir, eu queria.

Fui então no último dia das inscrições e preenchi o formulário McDonalds novamente. Desta vez eu já sabia um pouco mais sobre os palestrantes e organizadores, e um pouco sobre o que eles procuravam. Consegui encaixar algumas palavras-chaves como ”meio-ambiente“, ”sustentabilidade“, “reciclagem” e “vegetariano” no texto. Joguei o jogo.

Pouco tempo depois recebi a confirmação por email, eu havia sido aceito. \o/

(continua…)