Ok, fim do primeiro dia, tudo ficou mais claro.
Eu de fato cai de pára-quedas no evento do post anterior. Procurei entender melhor o porque da reunião, o que é que o Ministério da Cultura está propondo e em que pé a coisa está.
Em poucas palavras, do que eu entendi é basicamente isto:
1- O Ministério tem um projeto de digitalização do acervo da cinemateca nacional já em andamento, e quer aproveitar o embalo para disponibilizar estes conteúdos para quem quiser ou precisar.
2- Isto justificou o repasse de uma verba x (ouvi 10 milhões) para se criar um "sistema de gerenciamento de acervos". Um "kaltura melhorado" nas palavras do Pedro (que pacientemente tentou me explicar a motivação).
3- Já que o desenvolvimento de tal sistema pretende ser levado adiante, quis-se reunir nestes 3 dias pessoas ligadas a n instituições públicas que poderiam eventualmente se aproveitar de um gerenciador de acervos, para listar as necessidades atuais e outros requisitos.
Eu, como disse anteriormente, fui convidado quase que "por engano", já que não compartilho da visão sobre o que muitos ali entendem por "interesse público". Dizer que eu estava fora da minha zona de conforto ali seria um resumo insuficiente, eu estava é num episódio de Twilight Zone, overdose de bizarrices. Foi muito para mim.
Não vou dizer que não aproveitei nada porque seria mentira, aproveitei muito na verdade, as conversas do almoço, dos coffee breaks e todos os bate-papos do lado de fora das salas de reuniões foram proveitosos. Mas não contribui (e nem pretendo) com as reuniões, discussões sobre o sexo dos anjos, grupos de trabalho e demais atividades, não é minha praia, prefiro ficar de fora.
quinta-feira, março 18, 2010
quarta-feira, março 17, 2010
Precisamos de um Youtube.gov?
DISCLAIMER: post longo e que foge um pouco das minhas próprias regras editoriais, leia por sua conta e risco.
Embarco agora de manhã para o Rio de Janeiro. O objetivo inicial da viagem seria apenas participar de um encontro de Open Video que acontecerá Sexta-Feira na FGV organizado pela OVA.
Clip #1410 by Ace on Public Videos
Estou indo dois dias antes no entanto pois aproveitaram o evento (e a presença de gringos na cidade) para organizar outros dois encontros mais ou menos relacionados. O Drumbeat (uma espécie de Barcamp promovido pela Mozilla da qual eu posso falar em outro post) na Quinta-feira e um terceiro evento que acontecerá hoje e amanhã, que é o mais preocupante e o assunto principal deste post.
Dialogando com o Governo
“The most terrifying words in the English language are: I'm from the government and I'm here to help.”- Ronald Reagan
Ha uns 10 dias atrás, o Pixel me mandou um email perguntando se eu estaria no Rio esta semana e se eu poderia participar de uma reunião com membros do Ministério da Cultura, RNP e OVA. Respondi que estaria quinta e sexta a princípio, mas que não me importava em chegar um dia antes para bater papo.
Acredito que quem me convidou sabe minha posição com relação ao Estado (meu inimigo) e minha posição com relação a este governo em específico(eu gostaria de ver Lula sendo julgado pelos crimes que lhe são atribuidos). E se mesmo assim me convidaram, deve ser porque sabem também que eu aprecio discutir ideias, independente de com quem seja.
Na minha cabeça vale a pena perder meu tempo e participar de um encontro com outros produtores de conteúdo aberto a convite de membros de uma burocracia que eu repudio e de um ministério que eu acho que não deveria existir, mesmo correndo o risco de estar emprestando algum nome ou prestigio (que eu nao tenho) para uma causa que não é a minha.
Sou da opinião de que é melhor eu ir, participar e deixar clara minhas posições, do que não ir e ter que ler depois em algum blog por ai que “diversos setores da sociedade foram consultados”.
O Convite
“The urge to save humanity is almost always only a false-face for the urge to rule it.”— H. L. Mencken
Muito bem, abaixo está o convite que recebi por email e por onde eu soube qual seria o tema da “reunião de trabalho” (whatever that means), tomo a liberdade de reproduzi-lo aqui sem autorização:
Caro(a), Fabrício Zuardi
O Ministério da Cultura tem a honra de convidá-lo(a) para participar da reunião de trabalho para a elaboração de uma proposta para o desenvolvimento da "Plataforma Aberta de Conteúdos Digitais", uma plataforma online de áudio e vídeo, pública e livre, baseada em padrões abertos.
O encontro acontecerá nos dias 17, 18 e 19 de março, no Rio de Janeiro e é organizado em parceria com a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), e OVA (Open Vídeo Alliance). O local e horário da reunião serão confirmados em breve.
Aguardamos sua confirmação o mais breve possível.
Atenciosamente,
Coordenação de Cultura Digital
Cofesso que a dúvida sobre se Fabricio Zuardi é homem ou mulher não me incomoda, afinal é preciso pensar na pluraridade, no começo deste blog pessoas chegavam pelo Google buscando por "fabricio traveco" entre outras, a turma é consciente e nao quer correr o risco de gafes ao convidar transgeneros, gays, lésbicas e travestis (eu sempre me pergunto o pq retiraram os simpatizantes la da sigla quando mudaram de GLS p/ GLBTTT)… enfim. O que eu achei curioso foi a finalidade da reuniao, pois para mim, uma plataforma muito parecida como esta que querem elaborar uma proposta de desenvolvimento já existe.
Chama-se Internet.
Sério:
- Aberta - check!
- de Conteúdos digitais -check!
- online - check!
- suporta audio e vídeo - check!
- pública (dependendo do sentido) - check!
- livre (por enquanto) - check!
- baseada em padrões abertos - check!
Desenvolvimento de sistemas
If any idea can survive a bureaucratic review and be implemented, it wasn't worth doing.- Mollison's Bureaucracy Hypothesis
Sem maiores informações além do que estava no convite, eu seria capaz de apostar que o governo está querendo na verdade é criar mais um site. Pois quando eu vejo anunciarem uma “plataforma” disso ou daquilo por ai, normalmente é como justificativa para contratar alguma agenciazinha “ishxpeirrta” por alguns milhõeszinhos para fazer(como o nariz deles) um “portal” de qualquer coisa, e que depois exige mais contratos para manutenção da bomba em questão (chaching!).
Palavrinha do cão esta também hein… plataforma. Tudo hoje em dia é plataforma, vou te contar… "online video platform", é o que? Youtube? Wikimedia? Hulu? Bittorrent? Blip? Internet Archive? Wordpress? iTunes Store?
Pois bem, ontem, véspera da reunião, recebi um email com um esqueleto da agenda, ao que parece o plano é que os participantes façam um brainstorm sobre as “plataformas”(whatever that means) existentes, suas funcionalidades, para levantar novas ideias, soluções e etc. Até ai nada demais, é saudável colocar um monte de gente que ja trabalha na área para trocar ideias em torno de um tema. Thumbs up!
O problema é que(a julgar pela agenda enviada): existe a intenção (como eu temia) de usar o encontro para chegar em uma especificação de um sistema a ser desenvolvido. Ai já não né moçadinha! Calma lá, não coloquemos os carros na frente dos bois…
Assim fica parecendo que a necessidade da construção de tal plataforma é um fato irrefutável, que já foi amplamente discutido, que é uma demanda do mercado e que é uma boa idéia meter o poder público no meio. Quando na verdade não.
Fora de brincadeira, a programação do evento contém tópicos do tipo: "Definir a Arquitetura do sistema da plataforma", "Definir o modelo de metadados da plataforma", "Projeto de interface", "Elaboração de um roteiro para o desenvolvimento", "Definição dos recursos necessário".
Como diria o poeta: “cada um no seu quadrado”. Que raios tem o Ministério da Cultura, ou a RNP que seja, que se meter no desenvolvimento de sistemas para usuários finais?
Não estou discutindo aqui a validade de pesquisas acadêmicas de ponta financiadas com o dinheiro público, não é este o caso. Se a RNP estivesse, sei lá, querendo contribuir com a melhora do Dirac através de pesquisas de algoritmos de compressão baseados em wavelets ou o que quer que seja, eu não acharia a iniciativa tão ruim. Pesquisa é uma coisa, criação de produto é outra. E se o produto é um sistema web então… esquece, há incentivos de sobra nesta área para que soluções poderosas, abertas, colaborativas, inovadoras, de qualidade e de sucesso surjam sem interferência estatal/burocrática.
A impressão que eu tenho é a de que alguém quer propor o uso do nosso dinheiro num projeto fadado ao fracasso: Um YouTube.gov dos mesmos que nos agraciaram com a "TV traço", o blog do Planalto e o "Google Brasileiro".
— Porra Fabricio! Quanto rancor! O mundo não é preto e branco… veja o outro lado.
Eu sei, eu sei, não estou querendo miar o evento nem ser o do contra, prometo que vou lá, vou ouvir bastante e vou procurar entender as motivações, necessidades e crenças dos outros da reunião de trabalho, não necessariamente quero briga e estou disposto a ser contrariado e convencido, as usual. Só quero propor uma discussão anterior, na minha opinião antes de discutirmos quem vai andar na janela do Fusca é necessário dar um passo atrás e questionar se o Fusca é de fato o que queremos. Eu particularmente não quero.
Apêndice: Como politicas públicas do Brasil poderiam ser melhoradas para ajudar o vídeo livre?
There can be no freedom in art and literature where the government determines who shall create them.- Ludwig von Mises
Para não terminar o post num clima ranzinza, e para não parecer que eu só critico e não adiciono nada de positivo ao debate, segue abaixo duas simples propostas de ações por parte do poder público que podem influenciar positivamente o avanço do vídeo livre no Brasil. Retirado de uma entrevista que respondi para um levantamento que está sendo feito com produtores de conteúdo aberto no brasil, é a resposta para a pergunta do titulo acima.
Existem varias maneiras de ajudar o video livre no brasil através de mudanças nas políticas públicas, vou tentar citar algumas…
1- Democratizar o acesso a equipamentos eletronicos. Não através de leis de incentivos que beneficiam uma classe ou através de incentivos financeiros em forma de editais para dar grana para meia dúzia, isto não é democratização. A forma mais simples de realmente beneficiar TODOS é por meio de uma redução significativa nos impostos de importação, para TODOS os setores.
2- Cortar os incentivos para produções nacionais. Existe no Brasil uma certa inércia e comodismo, uma cultura de poder contar com um dinheiro a fundo perdido para produzir algo sem compromisso com qualidade, isto é na minha opinião algo que inibe inovações verdadeiras. Se fosse possivel quebrar esta cultura do Estado paizão, não só haveria menos desperdício do dinheiro público como os proprios movie-makers teriam que ir atrás de meios e formatos de produção alternativos, área onde o video livre apresenta vantages.
Assinar:
Postagens (Atom)